5.10.10

Genuínas experiências

Quando criança, um dos meus passatempos mais divertidos era construir e criar coisas. Meu cúmplice em quase todos os momentos era o meu irmão mais velho e não menos louco, Ronan.
Lembro que passávamos horas, muitas horas, desmontando caixas de madeira e tudo o que era inútil deixado pelos meus pais, para fazer coisas 'úteis'. Entre tantas ideias, um dia decidimos construir um helicóptero. Tínhamos certeza absoluta de que tínhamos tudo o que precisávamos pra isso. Uma pilha de coisas velhas e sem uso, alguns pregos e pedaços de madeira eram mais do que suficientes para viabilizar o nosso objetivo de construir qualquer coisa que quiséssemos.
Enquanto trabalhávamos em nossos projetos (tentamos fazer um helicóptero mais de uma vez, entre outros meios de transporte), debatíamos sobre as experiências que teríamos quando este estivesse pronto.
Iríamos pra escola com ele e poderíamos levar a nossa cachorra junto (ela teria que ir amarrada com um lençol na nossa barriga, pra não cair). Faríamos um bate-volta para a praia, mas aí teríamos que avisar nossos pais pois não poderíamos chegar lá sozinhos (não sabíamos nadar muito bem, poderia ser perigoso).
E depois que a gente enjoasse dele, poderíamos vender e usar o dinheiro pra comprar uma bicicleta. Afinal, que graça tem ter um helicóptero, não é mesmo? Bicicleta é sempre legal e não enjôa nunca.
Por motivos (hoje) óbvios, nunca completamos o helicóptero. Mas sempre tivemos a certeza de que não era por nossa culpa. O problema era que sempre tínhamos que interromper o processo criativo para almoçar ou fazer a lição de casa e depois ficava muito tarde. Então, sempre antes de escurecer, guardávamos todas as partes do helicóptero em seus devidos lugares.
E era como um ritual, que nunca nos desanimava ou deixava triste. Sabíamos que sempre teríamos tudo alí, pertinho da gente, pronto pra virar um helicóptero irado a qualquer momento.
E sem desmerecer o nosso esforço e capacidade de imaginação, hoje o que mais me orgulha é perceber que tivemos a sorte de nascer filhos de pais lúdicos e amorosos que nunca ridicularizaram nossos sonhos impossíveis e sempre acompanharam tudo com interesse e entusiasmo. Levando em consideração a vida humilde e difícil que tiveram, diria que foi praticamente um milagre.

Aos meus pais, minha genuína admiração.



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