28.4.09

Me, myself and I

(Foto: Luciano Fachini)

O sentimento 'solidão' é um pouco triste, mas mesmo ele pode ser transformador e benéfico, quando o indivíduo assimila o que sente e as motivações de estar e se sentir só.
A tristeza, a solidão, o lado sombra... são coisas que as pessoas preferem não enfrentar. Tomar remédio, mentir pra si mesmo, estar rodeado de pessoas que na verdade não dão a mínima para quem está do lado e nunca se confrontar ou confrontar outras pessoas.... todas essas são algumas das medidas que a maioria das pessoas toma pra tornar sua vida mais 'aceitável'.
Para minha surpresa, mas principalmente, para o meu autoconhecimento, com o tempo tomo maior consciência sobre mim mesma e como as outras pessoas me enxergam.
E pasma, percebo que as duas coisas podem ser exatamente opostas.
Às vezes há um abismo entre aquilo que somos (ou pensamos que somos) e como as outras pessoas nos vêem (com ou sem superficialidade).
Já passei da idade de agradar aos outros, por isso tenho perto de mim apenas aqueles em quem se pode depositar admiração e respeito mútuos. Isso não evita desgastes, discussões, aborrecimentos, etc... mas pelo menos, fazem sentido, pois vêem de pessoas que têm seu valor na minha vida.
Ninguém é perfeito e nós nunca vamos agradar a todos. Mas é muito melhor agir, respeitando a própria natureza, do que ter uma coleção de máscaras pra esconder deformidades.
Eu festejo às possibilidades, às dúvidas e incertezas que nos permitem questionar, escolher e aprender e melhorar.
Os defeitos que tenho também fazem parte de mim e formam a minha personalidade.
Quem não tem defeitos, ou melhor, quem sabe esconder os seus, merece no mínimo, um pouco de desconfiança.
Ter defeitos e principalmente, tomar consciência deles, nos ajuda a ser mais tolerantes com as outras pessoas. Não conheço ninguém que tenha cacife suficiente pra apontar sem ser apontado.
Enfim... o ser humano é um campo minado. Explorá-lo é desgastante e perigoso.
Mas quando se está disposto a correr risco e se é aberto a conhecer o outro e, principalmente, se conhecer, também pode ser uma aventura excitante, enriquecedora e feliz.
Às pessoas me perguntam como eu consigo viajar sozinha, por exemplo.
Eu digo que isso é fácil. Ninguém me entende e me suporta tão bem como eu mesma.
E, quando aquilo que é mais importante já está dentro de nós, nunca nos sentimos sozinhos.

12.4.09

Intimidade vale ouro

Algumas notícias recentes e um episódio que aconteceu comigo (pra preservar a intimidade dos envolvidos, não vou comentar o fato), me fizeram refletir sobre a importância de cuidar da nossa vida íntima. Não só os relacionamentos amorosos, mas tudo aquilo que diz respeito a mim, a você e a cada um de nós e que nos é tão valioso e secreto.
Estamos vivendo um confuso processo de abandono da intimidade. A intimidade está sendo banalizada e se transformando numa fonte de renda, através da mídia.
No BBB 'atores' vivem suas intimidades publicamente, para delírio de uma platéia afoita pelo 'quanto mais bizarro melhor'.
Os sonhos e vontades mais secretos são escancarados publicamente e por dinheiro. A lei é: quanto mais exposto, mais dinheiro no bolso.
Mas e o que dizer de pessoas comuns que se expõe completamente a troco de nada? Como exemplo, os anônimos do Orkut e outras comunidades de relacionamento.
A exposição em excesso faz com que percamos a consciência de que somos criaturas envoltas numa aura de segredo e temos valor pelo que guardamos de mais secreto em nosso coração, sonhos e ideais.
Sem a nossa intimidade perdemos aquilo que é essencial. A vida real acontece no silêncio da intimidade, no aconchego carinhoso do abraço afetivo, num beijo apaixonado... coisas que fazem parte do universo individual de cada um.
Os prazeres públicos, aqueles merecedores de aplausos e reconhecimento deveriam ser apenas o trabalho bem-sucedido ou uma comemoração de aniversário. São prazeres momentâneos, vazios dependentes do reconhecimento de outras pessoas que não necessariamente são pessoas especiais para nós.
Alguns famosos têm a falsa noção de que a felicidade depende do reconhecimento público de uma imagem projetada, mantida e defendida. Fonte de renda para um batalhão de assessores, empresários, jornalistas, fotógrafos, etc...
Todos engajados em gerar o maior grau de assédio que promova ainda mais determinada pessoa. Mas e o que vem depois disso? Os anos de prazeres de exposição pública sufocaram a alegria das coisas simples e realmente valiosas, a casa está vazia, não existem verdadeiros amigos, não houve tempo para amar e ser. Simplesmente ser.
A exposição roubou-lhes o segredo, a intimidade e tudo o que faz parte da identidade e essência do indivíduo, que aparece frágil e vazia.

“A vida ensina que a felicidade jorra da intimidade. Não há outra fonte. Pode haver prazer na apropriação, alegria no encontro, júbilo numa boa surpresa. Porém, felicidade, como profundo deleite do espírito, só na intimidade amorosa, na oração sem imagens e palavras, na contemplação do belo, no acolhimento do ser querido, na entrega ao mistério, na eternização subjetiva de um momento, na poesia de um toque, um gesto, uma palavra que traz em si plenitude”. (Frei Betto)

Intimidade é um tesouro valioso, é nosso refúgio e nossa essência. Não sejamos tão levianos com ela.