12.4.09

Intimidade vale ouro

Algumas notícias recentes e um episódio que aconteceu comigo (pra preservar a intimidade dos envolvidos, não vou comentar o fato), me fizeram refletir sobre a importância de cuidar da nossa vida íntima. Não só os relacionamentos amorosos, mas tudo aquilo que diz respeito a mim, a você e a cada um de nós e que nos é tão valioso e secreto.
Estamos vivendo um confuso processo de abandono da intimidade. A intimidade está sendo banalizada e se transformando numa fonte de renda, através da mídia.
No BBB 'atores' vivem suas intimidades publicamente, para delírio de uma platéia afoita pelo 'quanto mais bizarro melhor'.
Os sonhos e vontades mais secretos são escancarados publicamente e por dinheiro. A lei é: quanto mais exposto, mais dinheiro no bolso.
Mas e o que dizer de pessoas comuns que se expõe completamente a troco de nada? Como exemplo, os anônimos do Orkut e outras comunidades de relacionamento.
A exposição em excesso faz com que percamos a consciência de que somos criaturas envoltas numa aura de segredo e temos valor pelo que guardamos de mais secreto em nosso coração, sonhos e ideais.
Sem a nossa intimidade perdemos aquilo que é essencial. A vida real acontece no silêncio da intimidade, no aconchego carinhoso do abraço afetivo, num beijo apaixonado... coisas que fazem parte do universo individual de cada um.
Os prazeres públicos, aqueles merecedores de aplausos e reconhecimento deveriam ser apenas o trabalho bem-sucedido ou uma comemoração de aniversário. São prazeres momentâneos, vazios dependentes do reconhecimento de outras pessoas que não necessariamente são pessoas especiais para nós.
Alguns famosos têm a falsa noção de que a felicidade depende do reconhecimento público de uma imagem projetada, mantida e defendida. Fonte de renda para um batalhão de assessores, empresários, jornalistas, fotógrafos, etc...
Todos engajados em gerar o maior grau de assédio que promova ainda mais determinada pessoa. Mas e o que vem depois disso? Os anos de prazeres de exposição pública sufocaram a alegria das coisas simples e realmente valiosas, a casa está vazia, não existem verdadeiros amigos, não houve tempo para amar e ser. Simplesmente ser.
A exposição roubou-lhes o segredo, a intimidade e tudo o que faz parte da identidade e essência do indivíduo, que aparece frágil e vazia.

“A vida ensina que a felicidade jorra da intimidade. Não há outra fonte. Pode haver prazer na apropriação, alegria no encontro, júbilo numa boa surpresa. Porém, felicidade, como profundo deleite do espírito, só na intimidade amorosa, na oração sem imagens e palavras, na contemplação do belo, no acolhimento do ser querido, na entrega ao mistério, na eternização subjetiva de um momento, na poesia de um toque, um gesto, uma palavra que traz em si plenitude”. (Frei Betto)

Intimidade é um tesouro valioso, é nosso refúgio e nossa essência. Não sejamos tão levianos com ela.

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