12.5.12
28.2.12
8.11.11
12.10.11
Mudança
Mude, mas comece devagar, porque a direção é mais importante que a velocidade.
Sente-se em outra cadeira, no outro lado da mesa. Mais tarde, mude de mesa.
Quando sair, procure andar pelo outro lado da rua. Depois, mude de caminho, ande por outras ruas, calmamente, observando com atenção os lugares por onde você passa.
Tome outros ônibus.
Mude por uns tempos o estilo das roupas. Dê os seus sapatos velhos. Procure andar descalço alguns dias. Tire uma tarde inteira para passear livremente na praia, ou no parque, e ouvir o canto dos passarinhos.
Veja o mundo de outras perspectivas.
Abra e feche as gavetas e portas com a mão esquerda. Durma no outro lado da cama... Depois, procure dormir em outras camas. Assista a outros programas de tv, compre outros jornais... leia outros livros.
Viva outros romances.
Não faça do hábito um estilo de vida. Ame a novidade. Durma mais tarde. Durma mais cedo.
Aprenda uma palavra nova por dia numa outra língua.
Corrija a postura.
Coma um pouco menos, escolha comidas diferentes, novos temperos, novas cores, novas delícias.
Tente o novo todo dia. O novo lado, o novo método, o novo sabor, o novo jeito, o novo prazer, o novo amor.
A nova vida. Tente. Busque novos amigos. Tente novos amores. Faça novas relações.
Almoce em outros locais, vá a outros restaurantes, tome outro tipo de bebida, compre pão em outra padaria.
Almoce mais cedo, jante mais tarde ou vice-versa.
Escolha outro mercado... outra marca de sabonete, outro creme dental... Tome banho em novos horários.
Use canetas de outras cores. Vá passear em outros lugares.
Ame muito, cada vez mais, de modos diferentes.
Troque de bolsa, de carteira, de malas, troque de carro, compre novos óculos, escreva outras poesias.
Jogue os velhos relógios, quebre delicadamente esses horrorosos despertadores.
Abra conta em outro banco. Vá a outros cinemas, outros cabeleireiros, outros teatros, visite novos museus.
Mude.
Lembre-se de que a Vida é uma só. E pense seriamente em arrumar um outro emprego, uma nova ocupação, um trabalho mais light, mais prazeroso, mais digno, mais humano.
Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as. Seja criativo.
E aproveite para fazer uma viagem despretensiosa, longa, se possível sem destino. Experimente coisas novas. Troque novamente. Mude, de novo. Experimente outra vez.
Você certamente conhecerá coisas melhores e coisas piores do que as já conhecidas, mas não é isso o que importa.
O mais importante é a mudança, o movimento, o dinamismo, a energia. Só o que está morto não muda !
Repito por pura alegria de viver: a salvação é pelo risco, sem o qual a vida não
vale a pena!
Clarice Lispector
Sente-se em outra cadeira, no outro lado da mesa. Mais tarde, mude de mesa.
Quando sair, procure andar pelo outro lado da rua. Depois, mude de caminho, ande por outras ruas, calmamente, observando com atenção os lugares por onde você passa.
Tome outros ônibus.
Mude por uns tempos o estilo das roupas. Dê os seus sapatos velhos. Procure andar descalço alguns dias. Tire uma tarde inteira para passear livremente na praia, ou no parque, e ouvir o canto dos passarinhos.
Veja o mundo de outras perspectivas.
Abra e feche as gavetas e portas com a mão esquerda. Durma no outro lado da cama... Depois, procure dormir em outras camas. Assista a outros programas de tv, compre outros jornais... leia outros livros.
Viva outros romances.
Não faça do hábito um estilo de vida. Ame a novidade. Durma mais tarde. Durma mais cedo.
Aprenda uma palavra nova por dia numa outra língua.
Corrija a postura.
Coma um pouco menos, escolha comidas diferentes, novos temperos, novas cores, novas delícias.
Tente o novo todo dia. O novo lado, o novo método, o novo sabor, o novo jeito, o novo prazer, o novo amor.
A nova vida. Tente. Busque novos amigos. Tente novos amores. Faça novas relações.
Almoce em outros locais, vá a outros restaurantes, tome outro tipo de bebida, compre pão em outra padaria.
Almoce mais cedo, jante mais tarde ou vice-versa.
Escolha outro mercado... outra marca de sabonete, outro creme dental... Tome banho em novos horários.
Use canetas de outras cores. Vá passear em outros lugares.
Ame muito, cada vez mais, de modos diferentes.
Troque de bolsa, de carteira, de malas, troque de carro, compre novos óculos, escreva outras poesias.
Jogue os velhos relógios, quebre delicadamente esses horrorosos despertadores.
Abra conta em outro banco. Vá a outros cinemas, outros cabeleireiros, outros teatros, visite novos museus.
Mude.
Lembre-se de que a Vida é uma só. E pense seriamente em arrumar um outro emprego, uma nova ocupação, um trabalho mais light, mais prazeroso, mais digno, mais humano.
Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as. Seja criativo.
E aproveite para fazer uma viagem despretensiosa, longa, se possível sem destino. Experimente coisas novas. Troque novamente. Mude, de novo. Experimente outra vez.
Você certamente conhecerá coisas melhores e coisas piores do que as já conhecidas, mas não é isso o que importa.
O mais importante é a mudança, o movimento, o dinamismo, a energia. Só o que está morto não muda !
Repito por pura alegria de viver: a salvação é pelo risco, sem o qual a vida não
vale a pena!
Clarice Lispector
11.12.10
3.12.10
11.11.10
10.11.10
Na deriva
Florbela de Itamambuca
essa enchente que deu me tirou tudo
geladeira, cochão, sala distar
corri num orelião que tem no bar
fui lá traz de uma ajuda, e dava mudo
nem quem tava no morro foi sortudo
o barranco enterrou fundo no mar
perdi meu filho, gente, perdi tudo
tô a deriva e não sei, mas vou voltar
agora somos 3 na mesma igara
são pedro, nem pra dar isplicação
dona emanjá? nem pra me olhar na cara
agua pra tudo quanto é direção
nesse rio que levou as minha vara
e agora pra pescar, gente, é com as mão
(Fonte: site Escritoras Suicidas)
...
Florbela de Itamambuca
essa enchente que deu me tirou tudo
geladeira, cochão, sala distar
corri num orelião que tem no bar
fui lá traz de uma ajuda, e dava mudo
nem quem tava no morro foi sortudo
o barranco enterrou fundo no mar
perdi meu filho, gente, perdi tudo
tô a deriva e não sei, mas vou voltar
agora somos 3 na mesma igara
são pedro, nem pra dar isplicação
dona emanjá? nem pra me olhar na cara
agua pra tudo quanto é direção
nesse rio que levou as minha vara
e agora pra pescar, gente, é com as mão
(Fonte: site Escritoras Suicidas)
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5.10.10
Genuínas experiências
Quando criança, um dos meus passatempos mais divertidos era construir e criar coisas. Meu cúmplice em quase todos os momentos era o meu irmão mais velho e não menos louco, Ronan.
Lembro que passávamos horas, muitas horas, desmontando caixas de madeira e tudo o que era inútil deixado pelos meus pais, para fazer coisas 'úteis'. Entre tantas ideias, um dia decidimos construir um helicóptero. Tínhamos certeza absoluta de que tínhamos tudo o que precisávamos pra isso. Uma pilha de coisas velhas e sem uso, alguns pregos e pedaços de madeira eram mais do que suficientes para viabilizar o nosso objetivo de construir qualquer coisa que quiséssemos.
Enquanto trabalhávamos em nossos projetos (tentamos fazer um helicóptero mais de uma vez, entre outros meios de transporte), debatíamos sobre as experiências que teríamos quando este estivesse pronto.
Iríamos pra escola com ele e poderíamos levar a nossa cachorra junto (ela teria que ir amarrada com um lençol na nossa barriga, pra não cair). Faríamos um bate-volta para a praia, mas aí teríamos que avisar nossos pais pois não poderíamos chegar lá sozinhos (não sabíamos nadar muito bem, poderia ser perigoso).
E depois que a gente enjoasse dele, poderíamos vender e usar o dinheiro pra comprar uma bicicleta. Afinal, que graça tem ter um helicóptero, não é mesmo? Bicicleta é sempre legal e não enjôa nunca.
Por motivos (hoje) óbvios, nunca completamos o helicóptero. Mas sempre tivemos a certeza de que não era por nossa culpa. O problema era que sempre tínhamos que interromper o processo criativo para almoçar ou fazer a lição de casa e depois ficava muito tarde. Então, sempre antes de escurecer, guardávamos todas as partes do helicóptero em seus devidos lugares.
E era como um ritual, que nunca nos desanimava ou deixava triste. Sabíamos que sempre teríamos tudo alí, pertinho da gente, pronto pra virar um helicóptero irado a qualquer momento.
E sem desmerecer o nosso esforço e capacidade de imaginação, hoje o que mais me orgulha é perceber que tivemos a sorte de nascer filhos de pais lúdicos e amorosos que nunca ridicularizaram nossos sonhos impossíveis e sempre acompanharam tudo com interesse e entusiasmo. Levando em consideração a vida humilde e difícil que tiveram, diria que foi praticamente um milagre.
Aos meus pais, minha genuína admiração.
...
Lembro que passávamos horas, muitas horas, desmontando caixas de madeira e tudo o que era inútil deixado pelos meus pais, para fazer coisas 'úteis'. Entre tantas ideias, um dia decidimos construir um helicóptero. Tínhamos certeza absoluta de que tínhamos tudo o que precisávamos pra isso. Uma pilha de coisas velhas e sem uso, alguns pregos e pedaços de madeira eram mais do que suficientes para viabilizar o nosso objetivo de construir qualquer coisa que quiséssemos.
Enquanto trabalhávamos em nossos projetos (tentamos fazer um helicóptero mais de uma vez, entre outros meios de transporte), debatíamos sobre as experiências que teríamos quando este estivesse pronto.
Iríamos pra escola com ele e poderíamos levar a nossa cachorra junto (ela teria que ir amarrada com um lençol na nossa barriga, pra não cair). Faríamos um bate-volta para a praia, mas aí teríamos que avisar nossos pais pois não poderíamos chegar lá sozinhos (não sabíamos nadar muito bem, poderia ser perigoso).
E depois que a gente enjoasse dele, poderíamos vender e usar o dinheiro pra comprar uma bicicleta. Afinal, que graça tem ter um helicóptero, não é mesmo? Bicicleta é sempre legal e não enjôa nunca.
Por motivos (hoje) óbvios, nunca completamos o helicóptero. Mas sempre tivemos a certeza de que não era por nossa culpa. O problema era que sempre tínhamos que interromper o processo criativo para almoçar ou fazer a lição de casa e depois ficava muito tarde. Então, sempre antes de escurecer, guardávamos todas as partes do helicóptero em seus devidos lugares.
E era como um ritual, que nunca nos desanimava ou deixava triste. Sabíamos que sempre teríamos tudo alí, pertinho da gente, pronto pra virar um helicóptero irado a qualquer momento.
E sem desmerecer o nosso esforço e capacidade de imaginação, hoje o que mais me orgulha é perceber que tivemos a sorte de nascer filhos de pais lúdicos e amorosos que nunca ridicularizaram nossos sonhos impossíveis e sempre acompanharam tudo com interesse e entusiasmo. Levando em consideração a vida humilde e difícil que tiveram, diria que foi praticamente um milagre.
Aos meus pais, minha genuína admiração.
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12.9.10
7.8.10
3.8.10
As lembranças, o porta-retratos e as flores que não são de plástico...
As pessoas esquecem. Esquecem aquilo que querem esquecer, as coisas desimportantes, ou esquecem pra poder guardar o que for relevante. Pra quem não esquece, é estranho olhar para uma pessoa sem lembranças. Difícil olhar e concluir que ali jaz o cumplíce de um momento, de um sentimento outrora valioso. A lembrança de uma voz, a sensação do coração acelerando, um cheiro, um gosto, um rosto. Memórias afetivas que já não mais afetam alguém. É como ter um porta-retrato guardado numa gaveta que nunca mais será aberta. Outras lembranças são como as flores que não são de plástico. Nada são quando morrem, mas até morrerem, terão exalado seu perfume e exibido sua beleza.
E sempre haverá novas flores
dispostas sobre o armário com gavetas
ou ao lado do porta-retratos.
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E sempre haverá novas flores
dispostas sobre o armário com gavetas
ou ao lado do porta-retratos.
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